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Superar dificuldades é preciso

Depois de mais de um mês sem atualização no blog resolvi escrever algumas linhas após refletir um pouco sobre o papel do pedagogo como especialista em educação e especificamente como orientador. Percebo uma juventude pouco motivada e acostumada com facilidades, que de certa forma veio através dos meios de comunicação. Vivemos na chamada “era da comunicação digital”, o que vem para facilitar às vezes pode dificultar as vitórias de nossos jovens. Num contexto em que 99% dos jovens tem facilidade para se comunicar nas redes sociais, percebe se que uma grande maioria tem dificuldade em relacionar se frente a frente, em participar de uma entrevista de emprego, em até mesmo sair atrás de um emprego pessoalmente. Hoje a oportunidade de continuação aos estudos e acesso a uma faculdade, seja pública, privada, à distância ou não está bem facilitada e temos diversas opções de bolsas, inclusive integral. Mas nem sempre foi assim. Como exemplo de superação de dificuldades e coragem resolvi conta uma breve história.

Em uma determinada comunidade de uma zona rural vivia um jovem com muita vontade de estudar e ter uma condição de vida digna, diferente das dificuldades encontradas por seus pais, uma vez que eles não conseguiram sequer terminar o antes chamado “1° grau do ensino fundamental”. A família desse jovem era de origem simples, onde por muitas vezes regrava se o que comer e vestir. Veja que era uma família pequena composta pela figura do pai, da mãe e por um casal de filhos, sendo o jovem sonhador o mais velho desses filhos com uma diferença de 6 anos.


O jovem terminou o ensino médio e sonhava em fazer uma faculdade, que no caso teria que ser pública, pois a família não detinha condições para bancar uma faculdade particular. Por isso ele foi morar em uma cidade próxima que tinha uma universidade pública, cujo acesso dependia de muito estudo na época para conseguir ser aprovado o vestibular. Morava juntos com outras 8 pessoas, 3 rapazes e 5 moças, cujo a maioria das moças trabalhava em casa de família e somente uma estudava para ingresso na universidade. Dos rapazes um servia o exercito e o outro estudava a noite em cursinho pré vestibular. O jovem sem dinheiro para pagar cursinho prestou processo seletivo para o pré vestibular da prefeitura e conseguiu passar. Precisando de emprego para bancar as contas e sendo sustentado por um beneficio social do governo e pelo pouco dinheiro advindo da lida dos pais na roça estudou por 5 meses passando por perigo e indo para o cursinho a noite de bicicleta, muitas vezes de carona na mesma bicicleta do amigo que estudava em outro cursinho privado no centro da cidade. O trajeto era cerca de 6 km. Prestou vestibular, que na época era composto de provas abertas e fechadas, sendo necessário atingir uma nota de corte para correção da prova aberta, que não poderia ser zerada em nenhum conteúdo. Resultado foi a falta de 4 pontos para correção da prova aberta. Ainda tentando realizar seu sonho o jovem prestou novamente processo seletivo para o cursinho da prefeitura e conseguiu ingresso com melhor classificação do que a primeira vez, no entanto as coisas estavam difíceis para sua família, e ele voltou para terra de seus pais para ajudar na lida do campo, ainda assim prestou vestibular o detalhe que o processo seletivo da universidade era pago. Dessa vez o garoto conseguiu nota de corte para correção de sua prova aberta, no entanto zerou a prova de aberta de história sendo desclassificado. Ele havia tentado vestibular para história por 2 vezes e não havia conseguido. Em contra partida seus amigos que foram para a cidade, todos que tentaram, havia conseguido ingresso na universidade. O sonho parecia cada vez mais distante. Seu pai precisava dele na lida da roça e mesmo sua mãe torcendo por seu estudo ele resolveu continuar no sítio de seus pais. Parecia que seria uma desistência e que de fato o destino dele era ficar na roça, trabalhar de sol a sol ter a mesma condição de vida de seus pais, que embora honrada, era sofrida. Passou um ano e o jovem trabalhava com o pai, fazia cerca, produzia carvão, plantava milho e feijão, lidava com o gado, ainda participava da igreja local sendo coordenador de grupo de jovens, fazia parte da associação da comunidade, da pastoral da criança, era amigo da escola trabalhando de forma voluntária da rádio comunitária. O rapaz decidiu por conselho de familiares e amigos tentar mais uma vez o vestibular, mesmo sem fazer cursinho. Conseguiu desconto por ser carente e tentou para dois cursos, geografia para a cidade próxima e pedagogia para outra cidade que ficava a 170 km de distancia de onde morava. Dessa com uma bagagem de vida um pouco mais preenchida ele conseguiu passar em 1° lugar da modalidade egresso de escola pública para pedagogia, ficando na lista de espera para o curso de geografia. Com um misto de felicidade por ter passado e tristeza por não ter condição de se bancar em uma cidade que ficava longe contou para mãe, que naquele instante saltou de alegria e disse que faria de tudo para ajudar na realização desse sonho. Se mudou para a cidade com apenas uma mochila de roupas, uma reserve bem pequena de dinheiro (que conseguiu com a venda de carvão que produziu em sociedade com o pai), sem serviço garantido e sem mesmo um colchão para dormir. Foi morar em república, acolhido por uma prima e uma prima de sua mãe que cursava agronomia naquela cidade.

Por oito meses, dormiu no chão em um colchonete comprado por 50 reais, e colocava suas roubas na bolsa em cima de uma cadeira, pois não tinha condições para comprar uma cômoda ou guarda roupa. Conseguiu logo que chegou um bico em uma sorveteria aos finais de semana, no sábado e no domingo, onde ganhava 20 reais para ser garçom. O dinheiro era usado para pagar o vale transporte do coletivo que ia até a faculdade que ficava a 5 km da república onde morava. Ele estudava a noite. Após 6 meses tentou transferência para sua cidade, mas sem êxito. Então por intermédio de um tio, conseguiu um emprego em uma lojinha de DVD pirata, para ganhar 300 reais e tomar conta da loja durante o dia. A faculdade exigia muito esforço dele e se viu prejudicado pela falta de horário para os estudos, então negociou com patrão para ficar date 14 horas na loja e arrumou um velho amigo e ex colega de serviço da sorveteria para ficar de 14 as 18 horas na loja, onde o jovem somente iria para fechar o caixa e a loja as 18 horas.

No intuito de conseguir um emprego que ganhava ao menos um salário prestou concurso publico da prefeitura para o cargo de vigia, pois a inscrição era 25 reais e somente isso tinha sobrado naquele mês. Passou e tomou posse em 2008. E as coisas começaram a tomar pé a partir de então. Trabalhava de 6 da manhã às 13 horas da tarde, aí sobrava tempo para dedicar a faculdade. Muitas vezes o jovem voltou com colegas a pé da faculdade para economizar dinheiro e fazer os vales durarem mais. Veio o estágio, varias mudanças de republicas e muitas outras barreiras, mas nesse período o jovem conseguiu comprar uma moto através de consórcio, que facilitou seu percurso para faculdade, conseguiu adquirir a habilitação na categoria “A” e também conheceu na própria faculdade a moça eu viraria sua esposa no futuro. O jovem com muita persistência conseguiu se formar em 2011, tirando nota máxima no seu TCC e se tornado diplomado pedagogo apto a exercer a profissão. Logo que se formou prestou concurso para professor na rede estadual de ensino e foi aprovado tomando posse 3 anos depois. Pode ser dizer que nesse ponto ele havia conseguido realizar o sonho de uma vida digna através do estudo.

Essa história na verdade é real e o jovem é esse humilde blogueiro, professor, especialista em educação e hoje secretário de escola que vos escreve, mas não com intuito de aparecer. O objetivo dessa história de superação que contei de forma resumida é para que os profissionais de ensino nunca desistam do sonho de seus alunos, e para que os jovens busquem exemplo na determinação do jovem da história para superar suas dificuldades e conseguir sim realizar seus sonhos através do estudo. O sucesso é alcançado por aqueles que lutam e que nunca desistem, ainda que apareçam muitos obstáculos pelo caminho.

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